Você sabe o que são fazendas urbanas? Já pensou em cultivar seu próprio alimento em casa no seu jardim ou em freezers especializados? O transporte de alimentos para consumo nas cidades é um dos grandes problemas de poluição ambiental (além de financeiro) do mundo hoje.
Numa entrevista de 2020 à revista Trip, o líder indígena Ailton Krenak fez a seguinte observação que me chamou muito a atenção: ” Tudo o que você consome na cidade, você não produz na cidade. Foi ali que nasceu aquela ideia da criança de que o leite vem de uma caixinha, porque ele não vê a vaca. E que a água vem da torneira, ou da garrafa, porque ele não vê a fonte".
Se cada cidade no mundo produzisse 10% da sua alimentação indoor, permitiria que 34.000 m2 de terra fossem retornados às florestas todos os anos. — Dickson Despommier, Professor de Saúde Pública e Microbiologia de Columbia
Já pensou que a maçã que você come pode ter vindo de milhares de quilômetros de distância ou até mesmo de outro país? Um custo gigante de gasolina, empacotamento, distribuição por conta de uma fruta?
Além disso, perdemos também a conexão com o alimento e com a natureza. Não é incomum encontrar crianças que não sabem que batata nasce embaixo da terra e que castanhas vem da semente do caju. Quando não sabemos de onde veio o que comemos não damos valor ao que temos no prato.
A maior fazenda urbana do mundo
Pensando nesse problema, a atual prefeita de Paris, Ana Hidalgo, acaba de inaugurar na capital francesa a maior das fazendas urbanas em telhado do mundo. O projeto vem reforçar a tese de que grandes quantidades de alimentos saudáveis podem ser cultivadas em uma fazenda 100% urbana e de forma comunitária!
Projetos de agricultura urbana têm por objetivo trazer mais áreas verdes para as cidades ao utilizar os telhados dos edifícios para o plantio de vegetais e legumes.
A fazenda urbana de Paris tem aproximadamente 14 mil metros quadrados e conta com mais de 30 espécies diferentes de plantas que utilizarão métodos de cultivo orgânicos. Os parisienses têm a oportunidade de locar áreas para terem suas próprias hortas. Existem 135 lotes de um metro quadrado disponíveis para aluguel. O preço do aluguel anual é 320 euros, aproximadamente R$1.920, mas vamos lá, quanto você gasta de feira por ano?
Caso você não queira alugar um lote também pode comprar através de algum ponto de coleta certificado, reduzindo o transporte para áreas distantes da cidade.
Alimentação Colaborativa
A Food Studio é um braço da Ideo, empresa especializada em soluções de design, que busca repensar a relação das pessoas com a comida e seu impacto nas cidades e no meio ambiente.
Numa entrevista recente ao CityLab, as designers chefes do projeto enxergam o futuro da alimentação como colaborativo: comunidades comprarão e cultivarão alimentos juntas em esquemas muito parecidos com as fazendas urbanas e distribuirão esse alimento pronto entre elas. Uma parte fará o plantio e outra cozinhará para os que precisam trabalhar ou estudar.
Muito parecido com o que nossos ancestrais faziam no período neolítico. Uma volta ao passado? Vejo isso como uma sobrevivência para o futuro.
Inclusive, essa visão encaixa bastante com essas pesquisas que já falamos por aqui sobre como estratégias colaborativas e comunitárias garantirão a sobrevivência em tempos de pandemia em detrimento de grandes distribuições e corporações.
Isso também garantiria a alimentação de uma grande parcela da população que não tem acesso a supermercados e grandes distribuidoras de alimentos através de programas governamentais de doação de sementes a serem plantas em telhados e rooftops.
Plantio Indoor
Também existem diversas empresas trabalhando com estratégias de plantio indoor, ou seja, cultivar o seu alimento em “geladeiras” caseiras, dentro de casas e apartamentos.
Startups como a Willo já vem pensando estratégias de como cultivar alimentos dentro de casa com as fazendas verticais fechadas, que posteriormente podem funcionar em condomínios ou prédios, abastecendo uma comunidade local.
Outra empresa do setor é a Infarm (que construiu junto com a IDEO) uma fazenda vertical caseira através do conceito de “farming as a service” (fazenda como serviço) que através de um plano de inscrição mensal, podem ter sua fazendinha monitorada e receberão em casa sementes e adubo em pacotes para cuidar das plantas de acordo com sua necessidade nutricional.
A IDEO tem inclusive repensado como os interiores das cozinhas poderão mudar se essas iniciativas realmente começarem a fazer sucesso. Cozinhas compactas e extremamente funcionais adaptadas para o reaproveitamento e tratamento de produtos récem-colhidos podem se tonar uma moda.
Questionamentos
- Que outras estratégias podemos pensar para melhorar a distribuição e cultivo de alimentos no Brasil?
- Como esses serviços impactarão a arquitetura?
- Que outras iniciativas podem ser pensadas para aproveitar terrenos e telhados na sua cidade?
- Como arquitetos e designers podem repensar a alimentação e seus espaços?
Via Tabulla.